14 de maio de 2012

Rainha de Copas: Parte II


     Todo o júri escreveu, em suas lousas. “Ela acha que não há um mínimo de sentido em nada”. Mas nenhum deles se habilitou a explicar os versos.   “Se não há sentido neles”, disse o Rei, “isso livra o mundo de um incômodo, você sabe, não precisamos procurar um. E eu não sei não”, ele continuou desdobrando o papel sobre os joelhos, olhando para ele de rabo de olho, “eu até diria que há algum sentido neles, afinal de contas ‘...Mas disse que eu não sei nadar...’ Você não sabe nadar, sabe?”, ele perguntou virando-se para o Valete.
     O Valete balançou a cabeça tristemente. “Eu pareço com alguém que sabe nadar?”, ele respondeu (Certamente que não, pois ele era uma carta de baralho feita de papelão.)
     “Tudo bem por enquanto”, disse o Rei, que continuou a falar sobre os versos para si mesmo: “E isso, nós sabemos, é verdade...isso é o júri, claro...Porém, se ela quisesse ir ao fim...isso deve ser a Rainha...Que seria de ti, saber quem há de?...O quê, afinal?...Deram duas a ele, a ela dei uma...ora, isso deve ser o que ele fez com as tortas, certo?”
     “Mas os versos continuam com Todas voltaram, não faltou nenhuma”, disse Alice.
     “Certo, lá estão elas!”, disse o Rei com ar de triunfo, apontando para as tortas sobre a mesa. Nada poderia ser mais claro que isso. Depois vem...Antes dela dar seu estrilo... você nunca deu estrilo algum, não é, minha querida?“, ele disse para a Rainha.
     “Nunca!”, respondeu a Rainha furiosamente, jogando um tinteiro em cima do Lagarto enquanto falava. (O infeliz pequeno Bill tinha parado de escrever na lousa com o dedo, pois percebera que de nada adiantava; mas depois do ataque começou a escrever novamente usando a tinta que lhe escorria pela cara, enquanto não secava.)
     “Então suas palavras têm estilo”, disse o Rei olhando para o tribunal com um sorriso. Havia um silêncio de morte.
     “É um trocadilho!”, o Rei completou com raiva, e então todo mundo começou a rir. “Deixemos o júri considerar seu veredito”, disse o Rei, mais ou menos pela vigésima vez no dia.
     “Não, não!”, disse a Rainha. “A sentença primeiro...depois o veredito.”
     “Que disparate!”, disse Alice em voz alta. “Que idéia imbecil esta da sentença antes!”
     “Dobre sua língua”, gritou a Rainha, vermelha de raiva.
     “Não dobro não!”, respondeu Alice.
     “Cortem-lhe a cabeça!”, a Rainha berrou o mais alto que pôde. Ninguém se mexeu.
     “Quem se importa com você?”, disse Alice (que acabara de voltar ao seu tamanho normal). Vocês não passam de um baralho de cartas!”
     Nesse instante todo o baralho voou no ar, começando depois a cair sobre Alice; ela deu um gritinho, meio com medo, meio com raiva, tentando rebatê-las. A menina achou-se então deitada no barranco com a cabeça no colo da irmã, que gentilmente afastava algumas folhas secas que tinham caído da árvore sobre elas.
     “Acorde, Alice querida!!”, disse a irmã. “Nossa, que sono pesado você teve!”
     “Puxa, que sonho estranho que eu tive!”, disse Alice. Então ela contou para a irmã, tão bem quanto pôde lembrar, as estranhas Aventuras que vocês acabaram de ler. Então, depois que terminou, sua irmã deu-lhe um beijo e disse “Foi um sonho curioso, querida, certamente; mas agora apresse-se, é hora do chá: está ficando tarde.”

Livro: Alice no País das Maravilhas

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